Você não me contou como foi ontem?
Paula continua passando o batom em
frente ao espelho do banheiro.
Foi um bom começo, não? Ele lhe
convidou para tomar um vinho.
Não, Danuza. Ele me convidou para
tomar um vinhozinho – diz forçando o diminutivo- para aproveitar esse
friozinho.
Não seja exigente. Faz parte do
imaginário carioca: frio e vinho, mesmo que o frio não dê nem para botar um
casaco e o vinho não seja lá feito de uvas.
Depois de passar duas horas num
engarrafamento monstro, tentando chegar na Barra, cheguei ao restaurante louca
para fazer xixi. Sabe o que ele fez?
Não deixou você ir ao banheiro?
Não. Porque você sempre fala umas
coisas sem nexo? Ele pediu o vinho branco mais caro da carta de vinhos, que eu
depois conferi .
E qual é o problema?
Além de sequer querer saber a minha
opinião, minhas preferências ou o que vou comer para saber que vinho pedir,
demonstrou o pior dos defeitos: ele é daqueles que acha que vinho branco é
coisa de mulher.
Porque essa conclusão?
Pela frase feita “Pedi para você.
Tenho certeza que vai gostar.”
E qual era o vinho?
Quarts de
Chaume. 2006. Domaine Baumard.
Bom. Aliás, muito bom. Boa escolha.
Escolheu pelo preço tenho certeza. E
porque era vinho branco.
Danuza, isso não chega a ser um
defeito. No máximo, uma ignorância de que só o que é caro é bom. Com certeza,
tem menos chance de errar. E, ele pode gostar de vinho branco.
Não gosta. Diz que só bebe tintos.
Deve ter lido em uma pesquisa de estilos que a masculinidade está associada a
ingestão de vinho tinto. Foi só o garçom me servir que pediu outro vinho: um
tinto australiano.
Bem isso levou quanto tempo? 10, 20
minutos? E o resto do jantar valeu a pena? Ele tem bom papo? Não dizem que nós
mulheres somos auditivas: uma boa conversa e tudo está resolvido?
Ele até que tem um bom papo. Falamos
de vários assuntos. É um pouco convencido, mas dá para conversar.
Então, apesar dos percalços iniciais,
valeu?
Foi o que eu também pensei, Danuza,
até a primeira gargalhada.
Paula ergue os olhos em silêncio,
demonstrando que dessa vez não conseguiu traduzir a ideia.
Sabe aqueles tipo de homem que ri
alto de suas próprias histórias, supostamente engraçadas, para parecer que é
super feliz?
É. Isso não dá para superar.
Nem com vinho bom!
Teste
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