Eu preciso beber!
Ato contínuo, Paula abre a pequena adega de Danuza. Olha
para as garrafas parecendo procurar
alguma coisa. Danuza observa.
Preciso relaxar e esquecer o dia de hoje.
Então é melhor dar uma corrida.
Quero relaxar sem esforço. A corrida não serve.
Já sei o que você precisa! Alta graduação alcoólica. Vou
pegar uma vodka artesanal que eu ganhei há alguns anos.
Paula ignora Danuza e pega um vinho da adega.
Não quero vodka. Quero esse vinho: Quinta da Pellada.
Danuza tira bruscamente o vinho das mãos de Paula, que
olha para a amiga indignada.
Vou escolher outro. Esse vinho não é para relaxar.
Sim. Vinho é para beber... com os amigos. Não é o que
Mário Quintana dizia.
Não é exatamente o que ele disse sobre vinho e amigos.
Mas esse vinho... é diferente. Para uma ocasião especial.
Paula faz uma expressão de interrogação de quem espera
uma explicação.
Sabe, Paula, você pode descrever um vinho, falar sobre
como harmonizam com determinados pratos. Mas esse vinho, o Quinta da Pellada,
me apresentou uma outra possibilidade ...com esse vinho você só tem vontade de
beber. Mais nada. Sem avaliações, comparações, notas. A cada gole você vai
sendo transportado para Portugal. Não como um turista, mas como parte do
cenário onde ele é consumido.
Você andou bebendo enquanto folheava aquele catálogo de
vinhos de novo?
Danuza, resignada, concorda.
Resumindo: toda essa poesia é para dizer que você não vai
desperdiçar um vinho memorável comigo.
Hoje não.
Paula suspira.
Bem, onde está a tal vodka artesanal?
Danuza aponta um armário. A garrafa de vodka está entre a
água sanitária e o removedor de gordura.
Porque você guarda a garrafa junto com o material de
limpeza?
Danuza não responde.
Paula pega a garrafa e tenta decifrar o rótulo, como faz
com as garrafas de vinho.
O rótulo é mimeografado?
Produção caseira. Um presente que ganhei.
De artesanal virou caseira... Quem lhe deu essa garrafa, Danuza? Aliás, por onde você
andava antes de começar a beber vinho?
É melhor não saber.
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