terça-feira, 25 de agosto de 2015

Clube para conversar de vinho ou uma desculpa para conversar

Eu falo. Você parece me escutar, atento, olhando nos meus olhos, contar os detalhes da minha última viagem. E pausando a fala, numa pontuação necessária, inspiro. Você, rápido como um lagarto, enquanto expiro, inicia um assunto que não consigo engatar com nada do que disse. Logo agora que ia começar a contar a melhor parte da viagem! Por alguns instantes fico perdida e não presto atenção no que fala. Mas logo me ponho de prontidão. No primeiro segundo de pausa, faço como você e entro em cena com o resto da minha estória. 

Já presenciei este tipo de "conversa" em muitas ocasiões: as pessoas querem falar e não se importam muito se a conversa flui, se os assuntos encadeiam-se. Parece um festival de teatro, com encenações de monólogos, às vezes simultâneas, onde todos são artistas, mas ninguém é público.


Nessas horas, imagino um assunto que desperte o interesse de todos, não só para encadearem suas falas, mas para fazê-los ouvir as falas alheias, para concordarem, discordarem. Para viabilizar a tal da comunicação, essencial numa conversa. E acho que o vinho pode ser o mote para essa boa conversa - qualquer assunto pode resultar numa boa conversa.

Minha proposta para que essa conversa aconteça é simples: junte quem sabe um pouco, muito ou nada de vinho, cada qual com sua taça, para que o vinho lubrifique o cérebro dos presentes, e assim facilitar o fluxo de conhecimentos, desconhecimentos, curiosidades e tudo o mais que a língua pinçar da mente. Nessas condições, para quebrar o gelo, conte uma estorinha em que o vinho seja protagonista ou coadjuvante. Em seguida, com os cérebros lubrificados pelo vinho, cada qual deixa fluir questões relacionadas aos temas apresentados, com toda a liberdade que cada mente puder proporcionar. A partir dos temas lançados, cada qual escolhe sobre o que falar, buscando encadear sua fala com o que vai sendo dito pelos presentes. Ouvindo e falando. Como numa conversa!

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A paisagem através de uma taça de vinho

A arrumadeira me entregou uma balança? Você pediu?

Não pedi nada. Talvez faça parte do mobiliário...

Parece uma provocação depois dos bifes de porco preto que comi ontem.

Do porco preto, do caranguejo, da garrafa de Pera-Manca, das rabanadas...

Paula coloca a balança no chão. Danuza sobe na balança.

Já ganhei 3 quilos desde que cheguei em Portugal!

Como é corajosa. Parabéns. Mas, não adianta me provocar: eu não vou me pesar! E não vou deixar essa balança ficar me intimidando! – e guardou a balança dentro de um armário.

Quando estou viajando prefiro não saber se estou engordando.

Mas aquela calça jeans estufada que você usou ontem sabe...

Paula olha Danuza com raiva.

Comer e beber vinho em Portugal não é uma opção, é uma obrigação. Estamos cumprindo nosso papel de turistas.  É uma maneira de entrar no cenário e apreciar a paisagem de um referencial privilegiado. Para isso come-se por oportunidade, por obra do destino, por sorte e não por necessidade...

Paula interrompe a amiga.

Já estou convencida! E hoje para onde vamos?

Marquei um passeio de caiaque. Um programa diferente. Nada de museu, igreja ou vinícola.

Mas nunca andei de caiaque. Não sei se consigo...

Fica tranquila. Não seremos avaliadas para as olimpíadas. É um passeio.

Quando chegaram à barragem de Alqueva, de onde partiriam de caiaque, ficaram felizes com a aposta num programa diferente. A paisagem do Alentejo vista da margem de um rio numa manhã ensolarada é de tirar o fôlego. E o guia, um português agradável e simpático, lhes deu as instruções básicas para manobrar o caiaque.

Seria melhor se cada uma tivesse seu caiaque, disse Paula.

Talvez. Mas alugar um caiaque para duas pessoas custa menos que alugar dois caiaques.
Como não havia opção, entraram no caiaque. Paula na frente, Danuza atrás. 

Nas duas horas seguintes Paula e Danuza remaram. Em círculos, em zigue-zague, às vezes em linha reta. E meio sem controle encalharam em pedras, em montes de areia, em algas. Engancharam-se em galhos de árvore. Descobriram que não é possível frear um caiaque, quando se rema para trás. Trocaram de lugar duas vezes. E discutiram por cada movimento errado, por cada pingo de água que caía dentro do caiaque. E por todas as vezes que Danuza ignorava as ordens de Paula, que acreditava que era a comandante da embarcação. O guia, do seu caiaque, de uma distância segura, indicava os pontos a serem observados no passeio e não interferia na condução do caiaque duplo.

Terminaram o passeio com o corpo moído. Estavam cansadas e encharcadas e prometeram jamais viajar juntas novamente. Trocaram as roupas molhadas, cada qual atrás de moitas distantes.

Adiante, embaixo de uma árvore, uma toalha estendida com pão, presunto, queijo e vinho.

Tudo do Alentejo. Presunto de porco preto, pão alentejano caseiro, queijo de leite de ovelha e uma garrafa de vinho Pêra-Grave tinto. - disse o guia.

O vinho é parente do Pêra-Manca?

Parente, com certeza! Os dois são dessa zona de Évora que é conhecida pelas pedras de granito oscilantes, espalhadas pelo terreno das vinhas, que balançavam, mancavam nos barrancos, as “pedras mancas”. Daí ter surgido, há muito tempo, o “Pêra-Manca”, o vinho mais famoso das terras de Pêra-Manca, e que leva o nome da área. Mas não é o único. Nas terras de Pêra-Manca está a Quinta de São José de Peramanca, que produz o Pêra-Grave. O Pêra-Manca é produzido pela Adega da Cartuxa.

O vinho, um líquido vermelho escuro e bastante denso, foi o primeiro a ser atacado.

Os rostos franzidos de Paula e Danuza foram relaxando. E antes do final da taça que cada qual bebia, já esboçavam um sorriso. Comeram o presunto de porco preto, o queijo e o pão. Beberam toda a garrafa de vinho. Sem pressa. Largadas na grama. E não ligaram sequer para a boiada que passava fazendo poeira.

Que tal o passeio? – perguntou o guia

Maravilhoso! Que lugar lindo. Um rio tão limpo. O melhor passeio que já fiz em Portugal.

Também achei. Exceto pelo caiaque duplo. Nas atividades em grupo é que se conhecem as pessoas.

Paula não ignora a provocação.

Mas eu achei tudo maravilhoso. Até remar no mesmo caiaque com você!

Danuza olha para amiga intrigada.

A culpa é do Pêra-Grave. Do terroir das terras de Pêra-Manca, que permite produzir um vinho concentrado de boas lembranças do Alentejo. Quando bebido elimina lembranças desagradáveis. Só deixa as imagens e os sabores de Portugal na memória.

Teoria interessante...

Não é teoria. É um fato! Depois que bebi uma taça só tenho boas lembranças de você. Poucas, mas boas lembranças...

O guia tenta amenizar o clima entre as amigas e intervêem.

Remar é um trabalho de equipe. Discutir, às vezes, é necessário para chegar ao resultado. Já aconteceu outras vezes, quando usam caiaques duplos. Mas não vão brigar por isso, vão?

As duas não respondem. Ele insiste.

Então meninas, ainda amigas?

Sim. Desde que não falte Pêra-Grave! – respondeu Danuza. 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Bodega Cauzón

Granada é?
Muito mais que Alhambra!
Desde que chegaram à Espanha, quando contavam dos ingressos comprados para conhecer a Alhambra, ouviam a frase-conselho-mantra “Granada é muito mais que Alhambra”. E elas, seguindo o conselho-mantra, ficaram felizes ao descobrirem as “rutas do vino granadino” no entorno da Serra Nevada. Era só escolher o que ver e degustar, o que significava consultar seu guia cibernético – sempre ele, o google. Escreveram “ruta vino bodega cerca de granada”. No primeiro resultado da consulta encontraram duas bodegas de vinho natural. E lembraram de uma reportagem sobre vinhos biodinâmicos no Vale do Loire, que as tinha encantado. Animadas, refinaram a pesquisa para saber mais das bodegas encontradas e descobriram que eram referência na produção de vinho natural na Espanha.
Já bebeu vinho natural?
Não, que eu me lembre. Já bebi artificial. Sangue de Boi. Mas isso é passado.
Era hora de aprender e provar vinhos naturais. E agendaram visitas às bodegas Cauzón e Barranco Oscuro nos dois dias que ficariam em Granada.
No caminho para a Bodega Cauzón, a grandiosidade da Serra Nevada foi um aperitivo que já valeria qualquer que fosse o resultado da visita. Chegaram ao destino apenas com o endereço no GPS e concluíram que a vida antes e depois do GPS merecia um filme, disse uma das visitantes, lembrando da época que viajar de carro por lugares desconhecidos era uma mistura heterogênea de mapas indecifráveis, perguntas a estranhos nas ruas e estradas, orientações redentoras, dedos cruzados para pegar a saída correta da rotatória, suor frio e comemoração quando chegavam ao seu destino.  
A bodega Cauzón é um sobrado que compartilha o terreno com uma casa, onde Ramón Saavedra Saavedra, fabrica os vinhos Cauzón. A estrutura da bodega não é muito diferente de outras bodegas: equipamento para maceração das uvas, tanques de aço inox para fermentação, tudo organizado, limpo e refrigerado. E ele sintático, disse-lhes ali, “a bodega é isso aqui”, uma introdução para uma explicação didática do que é vinho natural.
O vinho começa a ser produzido na terra. Se o solo é mantido saudável, sem química, suas características são preservadas – que nada mais é do que o terroir. E se houver sol e chuva na medida, as videiras produzirão frutos concentrados e saudáveis. Depois de colhidas manualmente as uvas são maceradas e colocadas em tanques de inox para que fermentem com suas leveduras naturais. Sem correções, sem outras leveduras, sem sulfitos. Depois esse líquido vai para a garrafa ou para um estágio em barrica de carvalho. É assim que são feitos os vinhos da bodega. Naturalmente.
Poderia ter falado das características do solo, da altitude de 1000 metros, da idade das videiras, das uvas que exigem uma passagem por barrica, dos cortes mais comuns. Sabiamente, forneceu apenas as informações necessárias para que cada uma das visitantes as encadeasse com seus conhecimentos e desconhecimentos. E elas devolveram: vinho natural é o sumo das características do lugar. Ramón sorria. Ele já não apenas informava, ele comunicava-se com as visitantes.
Algumas fotos depois, desceram para o subsolo, onde ficavam as barricas de carvalho e as garrafas de vinho engarrafado, e onde, efetivamente, fariam a degustação. Cartazes de feiras e eventos de vinho natural que já aconteceram estavam colados em uma das paredes.  E as visitantes lembraram das paredes de seus quartos de adolescentes, repletas de cartazes colados. Cartazes de exposições, de shows, de filmes, de cantores, de atores. Dos eventos e das pessoas que marcaram suas vidas e que mantinham em suas paredes para não esquecer.
O primeiro vinho que provaram foi um Mozuelo 2014, 100% garnacha. Direto dos tanques de inox para as garrafas.  Ramón, enquanto apreciava seu próprio vinho, observava as visitantes com suas taças, pois conhece o efeito dos seus vinhos nas pessoas. O Mozuelo tinha arrebatado as visitantes, era visível. E elas não se preocuparam em falar dos aspectos visuais e olfativos. Relataram uma sensação diferente na boca: de não haver resistência de seus corpos ao vinho. Como se não houvesse atrito entre um pneu e a estrada para fazer um carro parar. E antes que elas achassem que a explicação fora muito hermética, Ramón emendou: é natural, não tem química, o corpo não reage. E explicou que desde que 1999 cuidava do vinhedo sem química. E a terra vem devolvendo o bom tratamento, produzindo uvas saudáveis e concentradas. E elas entenderam o que sentiam. E beberam o restante do Mozuelo em suas taças. Descartar nem pensar! Depois provaram o Pinot Noir, que passou em barrica. Uma cor surpreendente. Limpo e elegante. Em seguida Ramón abriu o Duende, 100 % Shiraz. Que vinho fantástico. Ramón orgulhoso diz que foi elaborado com muito capricho. Os três vinhos provados tinham um sabor que elas ainda não haviam sentido. Era tudo muito intenso, mas ao mesmo tempo suave. E conversaram. Muito. Sobre os aromas e sabores limpos. Do despertar de papilas gustativas. Sobre como proteger as vinhas sem pesticida. Das facilidades do uso da química para acertar qualquer aspecto que saia do padrão que o bodegueiro espera do vinho. Que o vinho natural valoriza o terroir, pois expressa o que há na terra. Das diferenças entre vinho orgânico e natural. Das tentativas de regular a produção de vinho natural. Que toda e qualquer garrafa de vinho pode resultar boa ou não. Dos rótulos feitos por um brasileiro. E enquanto isso bebiam. E cada vez sentiam-se mais leves. E aí, então, Ramón deu-lhes o golpe final e serviu seu Cauzón Blanco. Um corte de sauvignon blanc, viognier e torrontés, que elas elegeram como seu preferido. E elas juraram que estavam ouvindo o ABBA cantar Dancing Queen .
You can dance, you can jive 
Having the time of your life
Estavam ali pelos vinhos, mas o homem atrás do balcão, onde apoiavam suas taças, dissecava o prazer de fazer e beber vinhos em pensamentos simples. Disse que deveríamos brindar aos que amam o que fazem. Que fala o que faz e que faz o que fala. Que era cozinheiro e como tal aproximou-se dos vinhos. Que um dia quis mudar de vida. Na equação da transformação entraram os vinhos, voltar a viver em Graena, de onde  tinha saído jovem para trabalhar, um pedaço de terra que já possuía e poder lidar e valorizar a natureza para ter bons produtos. O resultado é que passou a fazer vinhos com o que a terra lhe oferecia e lhe ensinava, assim como ofereceu a terra seu trabalho, sua dedicação, seu tempo. Que vinho natural é filosofia de vida.
A visita estava sendo maravilhosa, mas não parou o tempo. Elas tinham que voltar para Granada ou perderiam a visita noturna à Alhambra. Hora de ir embora. Sem ver os vinhedos – 4 hectares na face norte da serra nevada – pois não havia mais tempo. Com algumas lembranças engarrafadas, as visitantes partiram.
Ramón tem atitude – largou a vida de cozinheiro estrelado para fazer vinho. O vinho que ele, Ramón, faz é natural. Logo fazer vinho natural é uma atitude diante da vida. Por isso que vinho natural é filosofia de vida. Lógica pura.
Tudo o que você disse é verdade. Mas essa sua sentença lógica...  Parece algo como: o samba é uma dança brasileira e eu sou brasileira, logo eu danço samba.
Essa, definitivamente, é uma falácia! Você não dança nada!

No caminho de volta à Granada perceberam que um novo paradigma havia se estabelecido: vinho natural é ótimo. Melhor ainda é o que está por trás, a filosofia de vida daqueles que produzem vinho natural. E a frase-mantra Granada é mais que Alhambra nunca foi tão verdadeira. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Bodega Cauzón - Texto em español - google traductor

¿Granada es?
Mucho más que la Alhambra.
Desde su llegada a España, cuando dijo de los billetes comprados para ver la Alhambra, escucharon la frase-Consejo-mantra "Granada es mucho más que la Alhambra". Y, siguiendo el Consejo-mantra, estaban encantados de conocer las "rutas del vino granadino" en los alrededores de la Sierra Nevada. Era sólo tienes que elegir qué ver y probar, lo que significó consultar tu cyber guía siempre, google. Escribieron "bodega de vino de ruta acerca de granada". En la primera consulta resultado encontraron dos bodegas naturales. Y recordado de un reportaje sobre vinos biodinámicos en el valle del Loira, que había cautivado. Animados, refinada la búsqueda para aprender más de las bodegas encontró y descubrió que se hace referencia en la producción de vino natural en España.
¿Has tenido vino natural?
No, creo recordar. Yo he tenido. Sangre de Toro. Pero eso es el pasado.
Era tiempo para aprender y degustar vinos naturales. Y visitas programadas de bodegas Barranco Oscuro y Cauzón en dos días en Granada.
En el camino a la Bodega Cauzón, la grandeza de la Sierra Nevada era un aperitivo que ya valdría la pena cualquiera que sea el resultado de la visita. Habían llegado a su destino con la dirección en el GPS y concluyó que la vida antes y después de que el GPS merecía una película, dijo uno de los visitantes, recordando el tiempo de viaje en coche por lugares desconocidos era una mezcla heterogénea de mapas indescifrables, preguntas a desconocidos en las calles y carreteras, redimir las pautas, los dedos cruzados para obtener el resultado correcto de la rotonda , sudor frío y celebración al llegar a su destino.
La bodega Cauzón consta de dos plantas que comparte el terreno con una casa donde Ramón Saavedra Saavedra, fabrica vinos Cauzón. La estructura de la bodega no es muy diferente de otras bodegas: maceración de la uva, tanques de acero inoxidable equipos para fermentación, todo organizado, limpia y refrigerados. Y dijo allí la fuente, "la bodega es que aquí," una introducción a una didáctica explicación de lo que es vino natural.
El vino comienza a ser producido en la tierra. Si el suelo se mantiene saludable, libre de químicos, sus características se conservan – que no es más que el terruño. Y si hay el sol y lluvia en las vides producen concentraron fruta y saludable. Uvas cosechadas manualmente se maceran o se colocan en acero inoxidable tanques que pueden fermentar con su levadura natural. Sin correcciones, sin otras levaduras, sin sulfitos. Después de este líquido entra en la botella o la crianza en barrica de roble. Que ha hecho los vinos de la bodega. Claro.
Podría han hablado de las características del suelo, la altitud de 1000 metros, la edad de las viñas, las uvas que requieren un paso por Smee, los cortes más comunes. Sabiamente, proporcionar sólo la información necesaria para asegurar que cada uno de los visitantes de encadeasse con sus conocimientos y desconhecimentos. Y han vuelto: vino natural es el jugo de las características del lugar. Sonrisa de Ramón. Él no acaba de informar, se comunicó con los visitantes.
Algunas fotos entonces donde descendió al sótano, eran las barricas de roble y botellas de vino embotelladas y donde, efectivamente, iba a hacer la cata. Fueron pegados carteles para ferias y eventos del vino natural que ya ha ocurrido en una de las paredes. Y se recordó a los visitantes de las paredes de las habitaciones de adolescentes, llenos de carteles pegados. Carteles de exposiciones, conciertos, películas, cantantes, actores. De los eventos y personas que han marcado sus vidas y que conserva en sus paredes no hay que olvidar.
El primer vino que probé fue un Mozuelo 2014, 100% garnacha. Tanques de acero inoxidable recta para las botellas. Ramon, apreciando su propio vino, había visto los visitantes con sus gafas, porque se sabe el efecto de sus vinos. El Mozuelo había arrebatado a los visitantes, era visible. Y no se molesten en hablar sobre los aspectos visuales y olfativos. Reportó una sensación diferente en la boca: ninguna resistencia a sus cuerpos para el vino. Como si no hubiera ninguna fricción entre el neumático y la carretera para hacer un auto stop. Y antes de que ellos piensan que la explicación muy hermético, Ramón modificado: es natural, no química, el cuerpo no reacciona. Y explicó que desde 1999 tomó el cuidado de la viña sin productos químicos. Y la tierra volviendo buen trato, producción de uvas sanas y concentrado. Y entendían lo que estaban sintiendo. Y bebimos el resto del Mozuelo en tus gafas. Deseche. Después de intentado la Pinot Noir, que pasó en barril. Un color increíble. Limpio y elegante. Ramon abrió al leprechaun, 100% Shiraz. Fantástico vino. Ramón orgulloso dice que él fue dibujado con el mismo capricho. Los tres vinos catados tenían un sabor que no había sentido. Fue todo muy intenso, pero al mismo tiempo suave. Y hablado. Mucho. Sobre los aromas y sabores limpios. El despertar de papilas gustativas. Acerca de cómo proteger las vides sin pesticidas. El uso de instalaciones químicas para resolver cualquier aspecto que sale de la pauta que el bodegueiro esperando vino. Valora el vino natural del terruño, tal como se expresa en la tierra. Las diferencias entre el vino orgánico y natural. Los intentos de regular la producción de vino natural. Que una botella de vino puede funcionar bien o no. Las etiquetas de un brasileño. Y mientras tanto bebían. Y cada vez sentía más ligeros. Y luego, Ramon les dio el golpe final y sirvió su Cauzón Blanco. Un sauvignon blanc, viognier y torrontés, que eligieron como su favorito. Y juraron que estaban escuchando cantan ABBA Dancing Queen.
" Se puede bailar, puede jive
Tener el tiempo de tu vida''
Estaban allí para sus vinos, pero el hombre detrás del mostrador, donde apoyaban sus gafas, diseca el placer de hacer y beber vino en pensamientos simples. Dijo que debemos brindar por que aman lo que hacen. Quien habla lo que está haciendo y hace lo que dices. Era cocinera y se acercó a los vinos. Un día quiso cambiar su vida. En la transformación de ecuación entraron en el vino, volver a vivir en Graena, que fue joven para trabajar, un pedazo de tierra que ya poseyó y podría afrontar y la naturaleza para tener buenos productos de valor. El resultado es que el vino con que la tierra ofrece y enseña, así como ofreció la tierra su trabajo, su dedicación, su tiempo. Que el vino natural es una filosofía de vida.
La visita era maravillosa, pero detuvo a tiempo. Tuvieron que volver a Granada o perder la visita nocturna a la Alhambra. Tiempo para ir. Sin ver los viñedos – 4 hectáreas en la cara norte de Sierra nevada-porque no había más tiempo. Con algunos embotellan recuerdos, los visitantes a la izquierda.
Ramón tiene actitud – vida de cocinero caído protagonizada por para hacer el vino. El vino que él, Ramón, es natural. Pronto vino natural es una actitud ante la vida. ¿Por qué vino natural es una filosofía de vida. Lógica pura.
Todo lo que dijiste es cierto. Pero esta lógica de la oración. Parece algo así como: samba es un baile brasileño y soy brasileña, bailo samba.
Definitivamente esto es una falacia. No baile no.

En el camino regreso a Granada se dio cuenta de que había colocado un nuevo paradigma: vino natural es genial. Mejor aún es lo que está detrás, la filosofía de la vida de aquellos que producen vinos naturales. Y la Granada de la frase mantra es más que la Alhambra nunca ha sido tan cierto. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Bodega Andrés Diaz

A vida depois da internet é ostensiva. Até para os não iniciados. Sabendo o que buscar, pode-se ter uma indicação do caminho a seguir.
Pois eu prefiro ser como a Alice: ”se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Vou para onde o nariz apontar!
Sei... Desde que alguém vire o seu nariz para a direção certa. Mas, como ia dizendo, deixa eu conversar com o meu guia cibernético: vino, ruta, madri e enter.
O google sempre vai responder alguma coisa. Com essa combinação de palavras deve apresentar uns 500.000 resultados...
674.400 para ser mais precisa. Mas o que importa é que o primeiro endereço é Madrid Rutas del Vino | Vinos de Madrid. Um clique e vamos descobrir onde estão  os vinhos de Madri.
Deveriam estar aqui em Madri! Talvez não tenha andado pelos lugares certos, mas só encontro Rioja, Rueda, Ribera.
No site descobriram que existe uma denominação de origem Madri, criada em 1992 para agregar os vinhos produzidos no entorno de Madri. Lá foram apresentadas às regiões e suas respectivas bodegas. Nas páginas das bodegas, encontraram as visitas e degustações que procuravam, e que deveriam, num mundo organizado e civilizado, ser agendadas. Era o que deveriam fazer, se tivessem tempo. Mas não havia tempo: partiriam de Madri no dia seguinte. Desânimo? Não! Apontaram seus narizes para a tela do smartphone e escolheram uma bodega.
Vamos sem marcar. Risco calculado. A pior situação: não nos receberem ou não encontrarmos a bodega. Nesse caso conheceremos a cidade, a localidade, a plaza. Sempre haverá uma Plaza, uma Catedral e um restaurante típico. Diversão garantida.
Decidiram ir para Navalcarnero – uma escolha quase aleatória, não fosse a cidade mais próxima de Madri daquelas relacionadas no site das rotas de vinhos de Madri – de ônibus, pois não queriam acrescentar as possibilidades decorrentes de dirigir um carro num local que não conheciam ao tal risco calculado. Mapearam o endereço da bodega Andrés Diaz no aplicativo maps do smartphone e partiram. Pouco mais de uma hora depois estavam de frente para a Bodega Andrés Diaz, que estava aberta. Entraram por uma grande porta, dessas que permitem a carga e a descarga de caminhões. Marco não demorou a aparecer para atendê-las. Contaram de sua recente descoberta dos vinhos de Madri e que vieram à Navalcarnero para conhecer uma bodega dessa denominação de origem e provar seus vinhos. Marco, atencioso, lhes disse que sua irmã Maria iria atendê-las. Gentil, argumentou que ela, sua irmã, apresentava a bodega muito melhor que ele. Maria contou que sua família produz vinhos há 5 gerações a partir de uvas de vinhedos próprios. Sempre venderam a granel. E ainda vendem. Há alguns anos, ela e o irmão decidiram assumir a bodega, introduzindo algumas melhorias no jeito de fazer vinhos da família e passaram a engarrafar seus vinhos para poder distribuí-los melhor. Na Bodega Andrés Diaz os vinhos são elaborados de forma espontânea e natural, utilizando tanques de cimento para a fermentação, que é a maneira como sua família sempre fez vinho. E nos explicou porque ainda usam cimento. O mosto em fermentação num tanque de cimento, que tem um grau de porosidade, é oxigenado em doses micro em função dessa porosidade, que é uma das condições para dar uma boa estrutura para o vinho. O cimento dispersa o calor melhor que o aço inox - eles ganham com a economia de energia para refrigeração.
Foram para a parte mais alta do galpão, onde se acessam as bocas dos tanques de fermentação. Maria destampou o tanque onde um mosto de garnacha fermentava, afastou a camada de leveduras e encheu algumas taças de vinho. O vinho parecia perfeito. Maria, cumprindo seu papel de dona da bodega, aproveitava para dar uma boa analisada no vinho. As visitantes hipnotizadas com a experiência emudeceram. Um contato em primeiro grau daquela natureza com o vinho exigia uma nova palavra na língua portuguesa, como aquelas palavras gigantes que existem em alemão para sintetizar o significado composto para uma única coisa. E as visitantes disseram baixinho: torporprazerdescemacioexperiênciainesquecívelsabormaravilhosonãovouesquecerjamaischeirodeespanhaagoragarnachaéminhapreferidapossobeberatésemcomermascomcarnedeveserótimo.
Maria compenetrada continuava a falar dos vinhos, das uvas. Diz que fazem vinho, muito mais pelo conhecimento que tem da vida no campo e em bodegas, do que por sua formação. Vão errando e acertando, aprendendo com o vinho a fazer vinho. Ela fala da  sua vida, que é a vida da bodega, que é a vida da família. O que se ouve não é um discurso padrão encenado para visitantes.
Depois de beber os vinhos direto dos tanques de fermentação era a hora de bebê-los das garrafas. E Marco e Maria abriram garrafas do   vinhos dÓrio Garnacha Cepas Viejas,  Tempranillo e Cabernet Sauvignon. Todos varietais -100% da casta. Este é aquele momento da visita em que, espera-se, seja executado uma espécie de ritual onde o vinho é analisado visualmente, olfativamente e gustativamente. Mas isso não aconteceu. Quanto mais vinho era servido, mais ele deixava de ser o protagonista para estar como coadjuvante nas taças que todos empunhavam. Como um anfitrião elegante e discreto conectou seus convidados – as visitantes, Maria, Marco – deixando que engrazassem suas falas numa conversa variada e animada. Falaram da Espanha, de trabalhar em família, da rotina de uma bodega e de como é conhecer um país através de uma garrafa de vinho. Na hora de partir, beijos, abraços, e-mails e telefones trocados. O vinho da Denominação de Origem Madri agora tem o rosto de Maria e Marco.
Para prolongar uma pouco mais a experiência que tiveram na visita à bodega, as visitantes foram experimentar a paleta de carneiro com o vinho Dório Tempranillo. Almoçaram num restaurante que fica numa das muitas cuevas de Navalcarnero.
No ônibus de volta para Madri, antes que o sono as arrebatasse desse mundo, guardaram cuidadosamente o smartphone, o instrumento que lhes permitiu não só descobrir a bodega, mas chegar até ela.
A tecnologia transformou a vida do viajante contemporâneo. Mas a motivação para deslocar-se pelo mundo é a mesma de viajantes do passado: sentir, ao vivo,  o que sentem as pessoas do lugar, beber o que bebem, comer o que comem, andar e ver por onde andam. A tecnologia transformou uma bodega familiar. Mas, na bodega familiar o vinho sempre terá a marca da família. As visitantes aceitam seu legado de viajantes. Marco e Maria aceitam o legado de sua família.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Mulheres gostam de vinho branco

Você não me contou como foi ontem?
Paula continua passando o batom em frente ao espelho do banheiro.
Foi um bom começo, não? Ele lhe convidou para tomar um vinho.
Não, Danuza. Ele me convidou para tomar um vinhozinho – diz forçando o diminutivo-  para aproveitar esse friozinho.
Não seja exigente. Faz parte do imaginário carioca: frio e vinho, mesmo que o frio não dê nem para botar um casaco e o vinho não seja lá feito de uvas.
Depois de passar duas horas num engarrafamento monstro, tentando chegar na Barra, cheguei ao restaurante louca para fazer xixi. Sabe o que ele fez?
Não deixou você ir ao banheiro?
Não. Porque você sempre fala umas coisas sem nexo? Ele pediu o vinho branco mais caro da carta de vinhos, que eu depois conferi .
E qual é o problema?
Além de sequer querer saber a minha opinião, minhas preferências ou o que vou comer para saber que vinho pedir, demonstrou o pior dos defeitos: ele é daqueles que acha que vinho branco é coisa de mulher.
Porque essa conclusão?
Pela frase feita “Pedi para você. Tenho certeza que vai gostar.”
E qual era o vinho?
Quarts de Chaume. 2006. Domaine Baumard.
Bom. Aliás, muito bom. Boa escolha.
Escolheu pelo preço tenho certeza. E porque era vinho branco.
Danuza, isso não chega a ser um defeito. No máximo, uma ignorância de que só o que é caro é bom. Com certeza, tem menos chance de errar. E, ele pode gostar de vinho branco.
Não gosta. Diz que só bebe tintos. Deve ter lido em uma pesquisa de estilos que a masculinidade está associada a ingestão de vinho tinto. Foi só o garçom me servir que pediu outro vinho: um tinto australiano.
Bem isso levou quanto tempo? 10, 20 minutos? E o resto do jantar valeu a pena? Ele tem bom papo? Não dizem que nós mulheres somos auditivas: uma boa conversa e tudo está resolvido?
Ele até que tem um bom papo. Falamos de vários assuntos. É um pouco convencido, mas dá para conversar.
Então, apesar dos percalços iniciais, valeu?
Foi o que eu também pensei, Danuza, até a primeira gargalhada.
Paula ergue os olhos em silêncio, demonstrando que dessa vez não conseguiu traduzir a ideia.
Sabe aqueles tipo de homem que ri alto de suas próprias histórias, supostamente engraçadas, para parecer que é super feliz?
É. Isso não dá para superar.
Nem com vinho bom!